domingo, 11 de setembro de 2016

Caio: do verbo cair.



Esse teu par de óculos escuros

Essa tua beleza estranha

e esses teus dedos largos

me inquietam

e toda inquietação gera um texto impublicável


Quando te vi, ali, bem sabes onde, não dei muito, passei direito, contei e recontei moedas na espera do outro alguém e tu todo falante veio, solicito de natureza puxou um papo, soletrou meu nome, descobriu meu endereço e fez faces de estranhamento quando descobriu que eu não era amante das mídias sócias, falou da maquina no quarto e dos poucos anos -e grande bagagem que tinha nas costas-

ressoou estranhamento na súbita presença do outro alguém, e então num desses inesperados comportamentos que antecedem o ato de partir: um abraço de dois segundos, um telefone copiado nas costas de uma nota fiscal, e uma partida, meio rouca, meio murcha.

E tudo aconteceu no seu devido tempo, talvez um pouco rápido ou devagar demais, talvez um pouco nu ou casto demais, se não fosse no banheiro daquele bar que fosse atrás do arbusto, nas bodas de diamante dos teus avós ou na missa de sétimo dia daquele teu amigo que se atirou do vigésimo andar


que fosse
e talvez seria
ou era pra ser
eu e tu
e aquele banheiro de bar
superfície penosa, som de cervejas batendo no engradado de quem tem sede
e o meu corpo mostrando se raso nas condições permissíveis.

Mas por quais cargas d'água eu escrevo isso? por que eu tenho que ser o que põem o fim mas se afoga nas lembranças? Eu que fui emancipado, mas sempre sinto falta de alguém pra fechar os meus cordões num segundo de pressa, e quando nem as unhas, essas unhas amareladas pelos breves anos juvenis de fumo, dão conta.

A realidade é me deixei ser fisgado e te deixei partir, talvez pela intensidade assustadora das coisas e por esse maldito sentimento que eu temo e não consigo carregar. Não te afogue em perguntas, em contextos e coisas que tu não vai conseguir entender, não devolve as camisas que tu pegaste no meu armário e eu deixei teu cheiro nelas me causa arrepio, um arrepio de banheiro de bar, que tu eu sabemos tão bem.




Nenhum comentário:

Postar um comentário