domingo, 21 de fevereiro de 2016

solto no bloco de notas do meu celular.

Borrifou miraculosamente sobre cada cômodo do meu apartamento um frasco de perfume, disse que tinha um "cheiro estranho" de canela e pelo de gato. Trocou a ordem dos imãs que enfeitavam minha geladeira, trocou o número do meu japonês favorito na agenda por um restaurante especializado em tofu defumado com ervas indianas. Reclamou dos meus sapatos sujos de alvejante, da marca cara de cigarro que eu fumava e do preço do aluguel do meu quarto e sala.

Uma parte minha quer, sempre quis tal regularidade sentimental, uma parte minha sempre gritou pela estabilização moral e emocional, uma parte minha sempre se corroeu inteira nesses sentimentos típicos de felizes-para-sempre ao qual meu peito em prantos nunca soube carregar, uma parte minha sempre quis essa rotina de relacionamentos comuns, com gente normal, mas meu corpo não sustenta, meu olhos não borbulham com camisas passadas a fino trato, a cabelos alinhados e roupas da última moda em Milão.
Meu peito sempre se estremeceu por essa gente torta de teatro de decadência, essa gente mal paga, mal vista, mal vestida, borbulhante. Por esses filhas da puta e suas transas tristes, suas putas tristes e suas memórias redigidas em bíblias de expoentes como os meus, como gabriel garcez ou phedra d cordoba. Uma parte de mim não encontra sentindo nenhum nisso aqui, mas escreve, e escreve quase que de forma automática em cada flash ou palavra que brota na mente. Uma parte minha flutua nas lágrimas que não dei, a outra mergulha o bico num bar Bogotá.