quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Notas de uma primavera qualquer.


De todas as cadeiras daquele bar, uma única me reconhecia.
Dura
alta
meio cambaleante e recém pintada de verniz.
Ficava ao lado do balcão
no canto escuro
à meia luz ao lado do cinzeiro de prata barato e do banheiro com cheiro de inseticida repugnante.

Ela era minha
unicamente minha
acento preferencial nas quartas
depois de um dia daqueles de pregação moral
e de valores não absorvidos.

Senta lá
Acende um cigarro
Pede pra tocar o lado B do teu disco favorito
Abre dois botões da camisa
não esquece da gola
sufoca!



E
Relaxa.

domingo, 1 de novembro de 2015

Futuro presente qualquer // não sofras Bartolomeu.


Dois dias sem tomar banho, e não há nenhum odor e nenhuma dor capaz de lhe trazer de volta pra mim.

Quarenta e oito e horas
quase quarenta e nove
o corpo apático
os olhos cansados
os dedos num tique repetido exaustivamente durante longos minutos

puxa o dedo maior pra cima
engole o debaixo
e assim vai.

Suspira.
Nenhuma monotonia.

O cheiro de teu sexo impregnado na minha camisa de botões
e todos os pensamentos cultivados por longas noites servidas por garrafas de vinho sem rolha deixados atrás da porta
assim como o corredor de madeira gasta que guinou teus caminhos para longe
longe
longe daqui.

Talvez os teus amigos do teatro entendam
talvez ninguém entenda
isso é um tipo de incógnita que ninguém representa.

Não justifique o teu caos com livro de astrologia barato para iniciantes
não justifique tua dor com a ausência de mim
com representação cósmica desses teus achados na Benedito Calixto

não me encontres na roda de samba do Bixiga
não me leve flores e objetos como forma de retaliação
pois os teus braços sobre os meus não passaram de uma canção.
Canção de quatro minutos
ciranda de menina que gira
que gira, e gira
e acaba em monotonia.
Monotonia perversa
dos que um dia juraram ficar
mas quando o barco pousou no cais se me permitiram voar.


Toda a emancipação é bem-vinda
e eu vou indo curar as feridas.