terça-feira, 4 de agosto de 2015

prelúdio


Qualquer reflexo de vaidade se lapidando e moldando-se numa carcaça desprovida de dor sobre o espelho, dois botões da camisa abertos, revelando silhuetas e nuances desconhecidas de uma lacuna despudorada jamais desbravada.

Tentou entender-se e de tanto tentar não conseguiu, leu e releu as mensagens que havia escrito para si mesmo como forma de fomentar uma personalidade sem dubiedades e de nada adiantou, continuou inerte num mar de incertezas cultivadas como objeto direto de seus neurônios fadigados.

Escreveu textos e cartas à mão, a quem um dia jurou gostar e no fundo não gostava, escreveu por capricho de menino que não compreende o que sente e é guinado por atitudes de impulsividade ao qual a escassez de auto-observação dita as regras desse monólogo inseparável.

Tentou ser não conseguiu, afundado em prelúdios e monotonia intensa que reluta em forma de céu nublado e caminhada voraz por becos inquietos da cidade jamais desbravada, e é, sempre foi, o que não mata fortalece.

O jeito como segurava o cigarro sobre a mão esquerda
traga de forma automática no fim de cada frase
os dedos opacos, o vestido escuro, o batom vermelho sobre os lábios
Marina, Mar ina, mar que vai
Mar que foi
enquanto as esposas dos astronautas escrevem bilhetes suicidas.