segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

entre-aberto

Livro de cabeceira
Castiçais
Candelárias
Cinelândias

Lençóis de mil fios
je t'aime

O disco roda
a alegria rebate
as cinzas do cigarro também
cinzeiro lotado
alma vazia
eu sempre te disse


a solidão é uma ótima companhia

vão de escada

Me vens meio aéreo
com os olhos arregalados
fala atravessada
lábios pálidos.

Os dedos me afagam, os dentes se roem entre si, amassa a camisa contra o meu corpo e chora. Foram tantas caminhadas, tantos sorrisos soltos ao léu até o dia fatídico em que foi, e foi! Pelo corredor de mármore amarelado e de rabiscos tortos de menino de seis anos. E agora me vêm, como quem não quer nada, como uma madalena arrependida ou Bridget Bardot numa dessas tragédias gregas de teatro de rua, e vens. Toca exaustivamente a porta seis vezes, a tevê no máximo me faz perceber apenas a última batida, cruel, submissa, desesperada, na porta de madeira gasta. Grito pausadamente "quem é?" E não responde, apenas uma batida, ou na verdade outra batida que sucede a última batida seca e cruel. Me dirijo até a porta, giro o molho de chaves três vezes como de costume, e lá esta você, molhado de chuva, trajando aquela maldita camisa do joy division e aquele short floral que tua vó te deu em dezembro e você não agradeceu.

curvas

Muito além de toda a superficialidade

Na noite

No acaso

Num beco qualquer

Numa dose de conhaque

Num filtro de cigarro compartilhando

                                                                                                        Nos conhecemos


Conhecemos de verdade

Muito além de toda a superficialidade

Muito além dos corredores que cruzavam minha sala da tua

Muito além de qualquer condolência

Muito além de qualquer passo vertiginoso

                                                             Num espaçamento qualquer
                           
                                                                                                          Eu te conheci.