sábado, 20 de agosto de 2016

envelope-pardo.

Umas paradas que escrevi no auge dos primeiros suspiros da manhã. Eu sei que eu não escrevo bem e já aceitei essa condição pra mim faz tempo. Público por uma necessidade de algo que ainda não sei... É que certas coisas precisam apenas existir. Que sejam aqui.



É que eu vi vestígios de perfume sobre a mesa da cozinha
e rastros de um café amargo recém tomado pela metade
seu zé não passa perfume pra ir a padaria
e não te encontrei em nenhum canto
supus que fosse tu, corriqueiro.

uns meses atrás te escrevi um ensaio de despedida
as bordas de um crime passional
achava que sentia muito
e agora já não sinto nada
e será se um dia senti?

tu parte
meio que sem data
meio que sem rota
meio que sem malas
sem bilhete postal

e eu não sinto nada
talvez indiferença
mas isso é palavra bonita pra nomear esse nada qu'eu sinto
e o nada significa tanto
o parapeito da minha varanda e a mesa de centro que eu comprei e ainda pago
e se eu pular?
quem paga?

me lapidei oco
sonso
e imune

e tu volta
sempre volta
meio como quem não quer nada
no meio de um temporal
sempre com aquele short que tua avó te deu no natal e tu não gostou
e aquela camisa do joy division que eu te dei no amigo secreto do grupo do teatro
já sabia eu
que ela te cairia bem
como teu corpo pulando do último andar da tua kitnet na major sertorio
tu volta
tu sempre volta
e eu de louco te deixo entrar
e quando dou por mim
tu já foi
meio que sem data
meio que sem rota
meio que sem malas
meio que sem bilhete postal
e eu aqui
lavando os lençóis com o cheiro do teu sexo
coando um novo café
até o dia que teu corpo vai bater aquela porta
e eu de louco
vou te deixar entrar.

Eu te amo
Feliz vinte e muitos.
Vinicius.

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Quem foi que saiu

deixando esse rastro de perfume pela casa

balançando o molho de chaves na esperança de encontrar a chave certa

com os pés ensaiando pisadas bruscas revelando sabe se la algum vestígio de obstinação

e o relógio ainda nem marcava sete

quem foi que saiu

que nem café tomou

que nem batom passou

que nem bilhete deixou.