Phedra D. Córdoba (Havana, 26 de maio de 1938 — São Paulo, 9 de abril de 2016) foi uma atriz cubana.
Na infância, chamava-se Rodolfo. Entrou para uma companhia de dança na adolescência, formando uma dupla com a bailarina Lupi Sevilha. Participou de uma turnê da companhia pela Argentina em 1958, e então conheceu Walter Pinto, que a convidou a desistir de voltar para Cuba e ficar no Rio de Janeiro. Abandonou definitivamente o nome e a identidade masculinas aos 21 anos de idade.
Assumindo o nome artístico de Phedra de Córdoba, trabalhou no espetáculo de
travestis Les Girls. Atuou como vedete ao lado de Costinha. Em 2003, entrou para a companhia de teatro Os Satyros .
Morreu em decorrência de um câncer, no dia 9 de abril de 2016.
Na ânsia de mudar uma coisa, qualquer coisa, juntei as moedas soltas pelos cinzeiros da casa, esvaziei os bolsos dos meus avós. Era tudo que eu precisava, nunca fui dono de grandes posses tampouco menestrel de grandes furtos, talvez uns antúrios no jardim da vizinha aos seis anos ou uns livros na biblioteca da escola, mas nada muito calculado.
Não contei quanto tinha em mãos, sai, apenas sai, com os lábios secos, beber água era perigoso, nunca tinha sentido fagulhas assim de liberdade e qualquer passo fora do previsto soava catastrófico.
Caminhei até o ponto, em silêncio, era necessário o silêncio no atual estado da condição. Minhas mãos trêmulas acenaram para o primeiro ônibus que passou, tirei a terra das calças e subi me segurando com convicção no corrimão de entrada, encarei o motorista como quem tem o controle da situação e fui. Algumas moedas sobre a roleta, dispenso o troco, gira, procura um lugar no fundo, perto da janela e observe a paisagem com deslumbre. As casas de taipa, os becos escuros, as pretas e seus vestidos floridos carregando com essa força feminina de quem carrega o mundo nas costas um balde cheio de roupas para serem estendendidas, grita com o menino que atrapalha a passagem com o pião. O boêmio alcoólatra e sua camisa florida parafraseando um samba qualquer enquanto os dedos ensaiam o compasso da melodia na taberna de um bar. As putas frígidas e sua maquiagem carregada num malabarismo incerto das mãos de unhas mal pintadas: um copo de gim e um cigarro enquanto conta notas de cinco.
O trânsito e sua caótica e pontual melodia.
Tenho compromissos inexistentes e não posso me atrasar, e nessa espera observo. Observo o vendedor de balas lendo a bíblia no ônibus enquanto limpa o suor decorrente do estresse da espera, com um lenço laranja. Observo as secretarias exaustas e seus coques exuberantes falando sobre os números da bolsa (a de valores). Observo inquieto e aflito minhas pequenas obsessões na observação alheia. Caio foi de paris até Viena de ônibus, não porque estava falido ou com pouca grana, ele assim como eu gostava de observar e talvez por isso e só por isso eu escreva isso.
E é chegado o ponto, puxo três vezes a corda de parada para me certificar de que estou no horário certo para o meu compromisso inexistente e inadiável e que nada nem ninguém vai atrapalhar. Desço saltitando nos anseios de menino, dou passes tão breves que soam imperceptíveis, e lá está ela, na praça, exuberante com suas castanholas falando sobre cuba libre com sotaque castelhano e feições santas de índia meio Brigitte Bardot com o cabelo impecável como o de Jane Fonda em amargo regresso.
Nessa noite eu não rezei.