segunda-feira, 27 de junho de 2016

Carta.

O teu futuro ao meu lado é incerto, não projete, não pense, não espere. Tu disse ontem que eu sou uma bomba prestes a explodir, perigo constante, meias palavras e oscilações constantes de estima, e por falar nessa bendita: lhe tenho tanta.

Não tenho sono, tão pouco vontade de existir ou talvez coexistir com o espaço e o tempo, então fico aqui, não sei onde, não sei quando, fico aqui.

Tu viu? ela se atirou, o corpo ali, apático, torto, sem sangue, o corpo dela. Ouvi dizer que estudou na minha escola, mas meus olhos nunca se atrelaram para aquelas curvas e jeito sinuoso de moça precoce, mas a forma que os fatos ocorreram me fizeram observar as nuances, e quando dei por mim, era tarde. O corpo, ali, existindo com o chão. Deus o livre. Ouvi dizer que outros tantos estiveram naquele parapeito, perto do fim. Que Deus os tenha!

A bailarina, projetista cultural, também foi outra, partiu. Minha mente projetou algo como o "homicídio da bailarina" pensei em fazer um zine mas meu corpo ficou em febre por três longos dias, essa história me doeu inteirinho, me doeu de incompreensão e impotência, mas hoje superei e gozo de boa saúde. E tu? por anda? que não dá notícias... Telefonemas avessos, gravações por código morse... nossa relação sempre foi assim não é? meio emancipada, tórrida, trágica, de baixo orçamento, risos. Tá eu sei, te vi ontem, ou vi o que tu estava disposto a me mostrar, o teu porri, lento, curioso e insuportável. Enfim, me bateu uma vontade imensurável de te escrever...

E aqui estou eu, numa madrugada de segunda feira te escrevendo coisas que tu não vai ler com pujança e marasmo numa folha de papel.

Boa noite, cuide-se
do seu e do mundo
 
Vinicius.

Onde houve, não há mais agora.

A minha liberdade
e o teu pudor
caminhavam bem
como meu corpo nu
atravessando tua cozinha
num flash
cauteloso e fugaz
em perigo eminente de ser fitado
pelos vizinhos
nas frestas das janelas de vidro
cortadas como
nossa atual ausência consensual
de dois corpos existindo
no
mesmo espaço
-tempo-
gabriel, tens sede?

quinta-feira, 9 de junho de 2016

reflexo

Não me venha com termos difíceis

frases juramentadas

e olhares de reprovação

comigo é outros quinhentos

é a vida vivendo

é os tapas na cara que não devolvi

é o desamparo que senti

é o vácuo que a minha pele

a minha pele

deixa no ar