terça-feira, 27 de outubro de 2015

aéreo


Eu nunca gostei de despedidas
tenho asco a solidificação ou ao marasmo convencional refletido numa dessa cenas de teledramaturgia das nove.

Não sou de bilhetes de despedida na cabeceira
nem de roupas espalhadas no chão por não terem cabido como deveriam na mala.

Talvez me encontre meio aéreo
numa dessas ruas de paralelepípedos do centro com iluminação baixinha e vinho a três e cinquenta, talvez me encontre no fundo de um desses copos descartáveis que molham o bico como anestésico passageiro pra dores que não se conta mas assume.

Talvez me encontre numa dessas tuas anedotas contadas pra três numa noite como forma de sedução e de um transa garantida por um cruzar de rostos e nomes no fim da manhã não catalogados.

Talvez não me encontre.

domingo, 18 de outubro de 2015

um dia, três outonos

Despedida dando morada a registos fotográficos na velha caixa de fotografias guardada a punho frágil sobre o armário empoeirado no cômodo vazio dedicado a qualquer quinquilharia que a mente é capaz de sustentar.

Passou por mim com os olhos cobertos pelos óculos embaçados de tanto chorar
uma garrafa de conhaque sobre os braços e os botões da camisa abertos
nenhum direcionamento a curto prazo pro corpo esguio com notórios sinais de amadurecimento.

Relutante
estimulante
transcendental
uma seringa sobre o bolso da camisa
os cabelos castanhos claros e os olhos opacos revelando silhuetas seladas por caminhos contraditórios desse mundo de tantos e de nadas.

Olhares de misericórdia apagados pelo vaivém da pirotécnica de luzes coreografadas por um maquinário distanciado.

Meu amigo
fiel companheiro de infância
agora fuma cigarros na escadaria dos desenfreados boêmios e conta das suas histórias com as putas tristes de corações amargos.

Um monologo de Hamlet dito a passos frágeis por uma mexicana melancólica aspirante a traficante barata como forma de auto sustentação de uma utopia contemplativa.

Reunião dos irmãos na sala das cadeiras de balanço
corpos estáticos
quarentões sem perspectiva numa dessas despedidas frias de respostas automáticas
e ainda assim amenas.

Partiu deixado seus pertences pra trás
fugido de uma dividia filha da puta
fugiu com o circo
desde pequeno sempre quis voar





e voou.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

meio-fio transitório.

Estagnado no meio fio da ponte de duas vias
corpo recatado sobre as velhas esperanças contidas antes do ácido bater.

Período de autorreflexão esperançosa refletindo em atos sensoriais de minúcia.
Corpo altivo
bruto
pecaminoso
ferrenho em si e em mais ninguém.

Passagens indescritíveis de violência respondidas em sabe se lá qual desesperança de uma língua estrangeira.

E talvez isso te soe um tanto ridículo ou uma rebeldia sem causa das tuas casualidades e livros sobre psicanalise moderna.

Aqui não jaz.
E os encontro amenos agora são esquecidos como parentesco tardio e flores na lápide dessas de plástico lembradas anualmente em feriado santo.
E a via de duas curvas me transporta pra caminhos já conhecidos e não avaliado pelos olhos
pois o corpo sente
é livre como as taças de vinho deles dois -eles dois- na constelação libertadora dos fins de domingo na praça de cima.

O zodíaco afirma:
tempestade tempestiva sobre o tamborim psicodélico náutico vegetativo das máfias russas aeronáuticas e em toda melancolia regada com os passos não direcionáveis.

Os livros de paginas amareladas e todo o anseio dos antigos donos impressos em cada anotação ou frase grifada como ato libertário de amores antigos.
E as bexigas da loja de conveniência revelando cores e formas de passados inquisitórios e o suor radicado sobre a palma das mãos.

O caos  da cidade não pode ser ouvido ou se quer sentido nem julgado em forma de transito parado ou qualquer arvore podada que dava sombra a caminhos conhecidos pelos braços livres e hoje abriga um enorme estacionamento de supermercado varejista.
O empasse das entradas e portas de saídas dos bêbados amontoados nos enlatados amarelos e toda predestinação mística que guarda um olhar muçulmano.
E há sempre haverá alguém capaz de se identificar com qualquer fagulha ou descrição recente carpintejada por meus dedos.