quarta-feira, 6 de maio de 2015

arranha-céus e não se vê mais céu


Passos policiados por ruas matinais recém molhadas pelas chuvas de abril. O silêncio acena como sinal de despedida em cada fechar de chaves nos automóveis de ultima geração, em cada fagulha de janela fechada noite passada como desprendimento e cautela. Rostos inchados e cabelos molhados anunciam um despertar recente de quem se escolheu ser, pastas sobre a mão esquerda, café de rua em copo descartável na direita. O peso da mochila não é maior que o do mundo. Portas abertas de padarias já conhecidas, retratos pingados sobre velhas lembranças, passeios infiéis sobre inutilidades cravadas em reflexos indesejados de espelhos alheios. Ajuste fugaz e discreto das vestes como requerimento de uma política de boa vizinhança, coque no cabelo, saia lápis, manga três-quartos. Ausência tangida em sola de sapato, punho frágil e sabe se lá qual lembrança imaculada nas gavetas da memória. Fungar de narizes inquietos, dedos aflitos na fila da banca de revista, notícias populares, inflação, previsão do tempo, bem estar e qualidade de vida colidindo com o olhar inquieto e apressado fixo no relógio de pulso. Taxas homicidas, coleta consciente de lixo, a chuva que vem para brindar o corpo e a saudade que passou de bicicleta.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Letícia dedo-de-flor.


Lhe escrevo, quatro e quinze da manhã de uma sexta-feira chuvosa. Lhe escrevo enquanto os meus braços não vão de encontro aos teus, e tuas dores sangram pelos lábios meus.
Pequena mulher, habita o décimo -primeiro-andar, motivo pro meu ficar, é lá que é o meu lugar.
Sapatos tamanho trinta e seis calejados de uma ausência que não pode ser preenchida de uma hora pra outra. Lábios vermelhos como sangue em corrente sanguínea de amores ruins. Traja casaco sempre nesses idas e vindas pelo centro velho, tem como boa companhia nas matanças de aula o cinza da cidade e a exatidão sensível de seus pensamentos, vez ou outra vomitados num caderno sem pauta de folhas brancas. Menina astuta, mulher volúvel, sensível e cabreira, gosta de sair aos fins de semana, bebe às vezes! Cultiva dentro de si uma espécie de "universo particular experimental" ao qual se mantem presa e ao mesmo tempo livre. É de tantos alguéns e não é de ninguém, indefinida, ilimitada. Diversas qualidades e uma sensibilidade aguçada que sangra os ossos a quem permitiu-se ver. Tem lá seu senso de humor, seus momentos de dor... Mas no fundo... No fundo... Eu só vejo amor.
Projeções futuras que vão de encontro as minhas, alguns metros quadrados de apartamento, um punhado de plantas, leva na pele palavras em russo e no coração um turbilhão de coisas que não cabe na mão.




Batuque de tambor

um buquê de flor

recolhe tua dor

E pedala até

O

Teu

Amor.