quarta-feira, 30 de setembro de 2015

duas e três da manhã, aqueles dois, aqueles dois.


Manobrou o cigarro com maestria sobre os lábios.

Naquele dado momento eu sabia
mesmo com todas as certezas
ou ausência delas que pairavam na minha mente eu sabia.
Os dedos trêmulos sobre o papel fino
a risada extasiante iluminando o canto escuro com a lanterna e a corrida pecaminosa daquilo que não se pressupõem (e nem deve).

Os lábios quentes sobre os meus
a língua áspera sobre a superfície da minha pele suada e o toque sombrio sobre a cabeça derrubando meu chapéu de forma inquisitória.

Corpos latentes sobre a escada
a única oferenda
um filtro vermelho
que queimou sobre os meus lábios numa tragada profunda de desgraças recém acontecidas
anotadas
e esquecidas em frações de segundo com a bebida que já não tinha gosto tampouco endereçamento de lábios alheios
                                 e foram tantos...


O corpo tremia
molhado
corrente
frio
às cinco
imune, imundo
falsa felicidade desenhada pela mente
e os reflexos passados daqueles dois
 - daqueles dois -
facilmente anulado pelo amigo ágil de pele clara
lábios avermelhados escondidos na pelagem ruiva da barba em fase inicial de crescimento com um bigode desses estilo salvador dali definitivamente definido e sua dificuldade em bolar um ínfimo baseado com suas dubiedades e os lábios sobre os meus e os dela e de tantas outras na escada de ditos lisérgicos viajantes.
Ele foi
Pegou o taxi e foi
Ela chorou sentada na cadeira branca, enquanto os seus dedos passeavam sobre o meu corpo num desses lapsos de despedida daquilo que nunca se teve
e teve
mesmo que por alguns minutos
me teve.

domingo, 27 de setembro de 2015

embarcação cotidiana entranha numa prateleira qualquer.

Dos registros consumados a punho

ambíguos


relutando qualquer agravamento territorial



das cadeiras desenhadas no foto livro

na confeitaria

a toda a distância

rio de janeiro - roma

do poema copiado da internet

descreditado em uma fotografia em paris

enviada via cartão-postal

selo colado com a saliva

e a dor escondida na caligrafia desenhada

je t'aime



já dizia o livro de auto ajuda.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

o acaso é um caso de número um.



Sorriso tímido moldando o rosto, nenhum tipo de roteirização brindando o território, a partir daqui o acaso é quem dita as regras, os sorrisos, os lampejos de luzes e qualquer tipo de insight que sucederá o encontro.

Conversa desbotando os lábios, nenhum relógio de pulso desenhando linhas cronológicas com início-meio-fim, apenas nossos corpos numa troca energética de amenidades e parecer intransigente de nossa personalidade igualitária. E é chegada a hora, como todo começo é carregado de partida, ele foi, foi nas miudezas do ser, carregado pelo último ônibus, a última linha, a dos boêmios, dos poetas, de pestanas pra gente como eu, e nessa caminhada leve, esvoaçante de vento frio que leva o casaco para as costas, ele foi, se quer sabia como era a pronuncia exata do seu nome, pediu meu número de forma sutil com a promessa de uma volta breve em que as certezas universais ditariam se seria breve essa volta, e não foi, mas o cruzar dos nossos lábios com certa estranheza por minha parte nos primeiros minutos foi sanado por seus dedos percorrendo os fio desajustados do meu cabelo e assim foi.

O corpo volta, esboçando sorrisos de canto de boca, observando olhos alheios, fundos, desconhecidos com histórias recentes tateando o irremediável nos confins da memória. E a semana passa, os calendários são rabiscados, os pensamentos no esquecimento da memória agora visitam a superfície de qualquer corpo em estado de apatia sobre a cama.

Ele levanta todos os dias às seis, no meu contratempo, dos bom dias, das amenidades refletidas no corpo adormecido e das conversas até desgastar os dedos, no fundo da alma de um distanciamento sanado nos fins de semana eu fui.

E lá esta ele

E eu

Nós

Sentados nas mesas insalubres desse ambiente reduzido a luzes fortes e clarões, corpos próximos, ensaiando qualquer tipo de remorso ou dualidade dilacerante, os dedos por dentro da minha camisa de botões, regando meu corpo suado, arrepiando qualquer poro encoberto por calor humano, aproximação com fuga recente relutando nos malditos dedos largos por dentro da camisa de botões ora sobre as pernas ora ajustando os fio do meu cabelo

‘’Vamos dançar’’
e fomos no ritmo indecifrável do bass pesado daquele som de ruídos fortes e olhos escondidos por inúmeras luzes coloridas revelando apenas o que a mente quer ver, os lábios semicerrados, o corpo encostado sobre a parede de tijolos de churrasqueira, a fumaça que encobria o ambiente e os nossos lábios aproximados falando algo que os meus ouvidos não puderam interpretar e mesmo assim foram.



Nessa noite eu não rezei.

domingo, 6 de setembro de 2015

Um desamparo perdido no espaço.



Do cruzar de olhos fatídicos no corredor de azulejos gastos ao desnortear pedante dos nossos corpos suados sobre a área selvagem de características alucinantes

E o corpo meu amigo

Pendente para trás

Ensaiando qualquer minúcia de equilíbrio em ombros alheios

Cigarro latente nos lábios

Cores fortificadas a cada passada cambaleante

Sorrisos eternizados pelo vento

E toda melancolia afogada a prestações

Tentou ser

Não conseguiu

E de tanto tentar

Morreu em pé.



Uma ideia inicial

Afogada por tantas outras

Chamada perdida

‘’Me ligue assim que receber o recado’’

Não ligou

Continuou a imaginar

Tecer na memoria

Os velhos tesões

Os velhos devaneios

As cirandas quando garoto

E o fim fatídico do corpo cambaleante

Caminhando insone

Por entre vielas e umbrais

De uma paris triste de ruas de paralelepípedo

‘’ la vie est douleur’’          Ele disse

Me socorreu em frances 

Disse que eu era o preferido


Entre os outros três.